Com uma carreira bem sucedida ao longo de mais de 30 anos nas áreas de Telecomunicações e Tecnologia, Hélcio Tessaro construiu sua história profissional com passagens por empresas como Positivo Tecnologia, HSBC Global Technoloy, Brasil Telecom, atuando sempre na gestão estratégica de Recursos Humanos. Hoje é Diretor de Recursos Humanos da Ouro Verde, uma das maiores empresas de gestão e terceirização de frotas de automóveis, máquinas e equipamentos pesados do Brasil. Também é Conselheiro Certificado de Administração IBGC e Sócio-Fundador da Boi and Beer Comércio de Carnes Ltda, tradicional boutique de carnes na capital paranaense. A sólida experiência na condução de processos que requerem liderança de forma a melhorar os resultados o capacita, sem dúvida para ser um dos líderes do movimento ESG na Ouro Verde.
O ESG é uma oportunidade estratégica para as empresas
Como você vê a crescente importância do tema ESG no mundo corporativo?
Hélcio Tessaro – O tema não surgiu do dia para noite. No final da década de 90, o Brasil começou a ter mais atenção sobre isso, mas mais ligadas à demandas de responsabilidade socioambiental, com acidentes que surgiram, como grandes derramamentos de óleo, e também a criação da nova Lei de Crimes Ambientais, isso começou a ter um destaque muito grande. Então, o primeiro movimento que se vê é o desafio de proteger o planeta sobre o viés ambiental. O assunto foi sendo discutido e amadurecendo, porque as empresas começaram a perceber o quanto suas ações – aquelas que vão além do âmbito comercial – podem ter responsabilidades civis que impactam para o bem e para o mal, na vida da sociedade. Nas últimas duas décadas, o ESG é encorpado para temas que vão além do meio ambiente, falam de sustentabilidade no sentido mais amplo, como consequência de uma pressão da sociedade civil organizada, dos avanços da comunicação rápida e sem fronteiras, e do amadurecimento da gestão de algumas empresas. Hoje, vemos um novo salto, com o ESG sendo tratado como oportunidade para a empresa. Podemos nos antecipar a riscos, evitando perda reputacional, perda de eficiência e risco para operações. E de outro lado há ganhos de engajamento, de visibilidade e de benefícios para a sociedade seja na condução de processos ambientalmente mais limpos ou oportunidades sociais que tragam uma vida melhor para as pessoas.
Por onde é possível começar a avaliar o tema dentro da empresa?
Hélcio Tessaro – Na Ouro Verde há muitas décadas nós temos programas que estendem o papel da companhia, trazendo benefícios para a comunidade, mas isso era feito de forma ‘espalhada’. Nos últimos dois anos reunimos isso sob um só ‘guarda-chuva’ e começamos a avaliar de forma crítica nossos objetivos e seus resultados, e o ESG tornou-se fator estratégico. Hoje temos uma estrutura formal para cuidar disso. Mas somos racionais em tudo o que fazemos. Buscando estabelecer uma jornada ESG, calcada dentro daquilo que é possível ser feito, sem promessas vazias ou aplausos fáceis. Além de uma série de iniciativas anteriores, que já tínhamos na companhia, em 2022 devemos implantar novos programas corporativos que vão dar lastro na materialização dessa jornada. Então meu conselho seria iniciar pelo mapeamento do que a empresa já faz e buscar traçar os impactos futuros. É um exercício muito importante. Ao parar para avaliar seus impactos, você começa a enxergar oportunidades incríveis de ganhos tangíveis e não tangíveis.
Quais são os ganhos que você vê, para a empresa/colaboradores/sociedade, quando o tema ESG é tratado com o devido respeito?
Hélcio Tessaro – Sim há ganhos em várias esferas. Mas como falei anteriormente, não temos uma visão romântica sobre o tema, ao contrário, somos bastante pragmáticos. Entendemos que há ganhos contabilizáveis, em recursos financeiros, nas antecipações de possíveis riscos que gerariam grandes prejuízos e nas oportunidades não tangíveis, como as atreladas à reputação da companhia na sociedade, à atração e manutenção de talentos, ao entender que essa é uma empresa que tem uma preocupação ESG, e também aos beneficiados diretos por nossas ações, como jovens da comunidade, mulheres que terão oportunidades de iniciar uma nova carreira, PCDs que têm lugar aqui com a gente. E hoje, em nossa estratégia ESG um de nossos projetos é o investimento em negócios verdes. Ou seja, nós passamos a antecipar formas diferenciadas de benefícios para um conceito mais amplo.
Mas Critérios ESG são apenas para grandes empresas?
Hélcio Tessaro – De forma alguma. Grandes empresas certamente têm mais alcance e visibilidade, mas médias, pequenas e microempresas também podem adotar critérios que vão impactar diretamente no seu universo de ação. O importante é entender isso e dar o primeiro passo.
Mas a quem compete o ESG dentro da empresa?
Hélcio Tessaro – Não trataria assim, como competência de determinada área. Embora os temas socioambientais há muito tempo são tratados nas empresas – e o Brasil ainda segue um pouco distante do que já acontece na Europa, por exemplo – vejo que o RH possa ter um papel fundamental nisso, assumindo para si essa responsabilidade . Por entender demandas internas, por ter uma visão da comunidade e pela competência de estabelecer relações entre os diversos stakeholders. Minha proposta, inclusive, é que no Diretivo RH, possamos trocar boas práticas entre as empresas participantes para que juntos possamos evoluir no tema, com exemplos e com estudos. Há um grande caminho. Que possamos percorrer ele juntos.
“No Brasil o ESG tem muito a crescer e, por ser um tema ainda em construção, acredito que o RH pode e deve assumir essa condução, tornando-se protagonista do tema junto aos colaboradores e stakeholders. Vejo que temos habilidades, conhecimentos e visão estratégica, para tratar do tema com propriedade. Uma oportunidade para os profissionais de RH, de fortalecer nosso papel nesse contexto”.
Baixe essa entrevista em pdf: Entrevista com Helcio Tessaro
Conteudo por: Angela Wanke